sábado, 28 de janeiro de 2017

SEMMA E CONSELHO COMUNITÁRIO FECHAM CASA DE CARIMBÓ EM ALTER DO CHÃO



O texto abaixo vem mostrar o resultado de uma decisão que foi cumprida por quem manda, concordo que as leis são para serem cumpridas, mas acho que poderia ser diferente, poderia neste momento diante de um espaço cultural de resistência tão importante para cidade de Santarém. Há casos de corrupção, roubalheiras e coisas muito piores acontecem no Brasil e decretos são revogados e até leis são jogadas abaixo quando é de interesse dos nossos governantes




A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas no palco, show e multidão

fonte: https://www.facebook.com/boro.borovik?fref=ts

SEMMA E CONSELHO COMUNITÁRIO FECHAM CASA DE CARIMBÓ EM ALTER DO CHÃO, o espaço que mais valorou o patrimônio cultural imaterial da nossa terra. Como assim?
O Espaço Alter do Chão, conhecido como Borô, nasceu em 29/01/2011 como a fênix da primeira pousada na vila de pescadores à beira do rio Tapajós e desde então promove a divulgação e inclusão cultural. Essa semana, as vésperas do aniversário de seis anos, a Secretaria de Meio Ambiente de Santarém cassou a licença de operação e o Espaço foi fechado.
Durante esses últimos seis anos o Espaço Alter do Chão tornou-se uma referência na Amazônia: um local de valorização da cultura regional, de integração entre turistas e nativos, forte consciência ambiental e política. Já subiram no palco do Espaço artistas como Dona Onete, Pinduca, Maria Lidia, Nato Aguiar, Sebastião Tapajós, Espanta Cão, David Assayag, Mestre Solano, Felipe Cordeiro e muitos outros.
 O Espaço apoiou iniciativas como os Jogos Indígenas do Baixo Tapajós e Encontro Nacional de Estudantes Indígenas. Incentivou a patrimonização do carimbó, sediando a grande maioria das apresentações dos grupos do Movimento de Carimbó do Oeste do Pará em Alter do Chão e Santarém, desde a inauguração, no dia do primeiro aniversário do Movimento Roda de Curimbó, até hoje finalizando com o 2o. Festival de Carimbó do Oeste do Pará.
Recentemente realizou o Festival das Águas: cinco dias de música, circo, oficinas e rodas de conversa com o objetivo de fortalecer a luta contra os grandes empreendimentos na bacia do Tapajós e buscar soluções independentes para questões como saneamento básico e lixo.
Buscando a diversidade cultural, o Espaço promoveu, além do carimbó, festas de boi, reggae, brega, rock. Em 2015, durante a minha ausência, abrimos espaço para a música eletrônica; um equivoco visto que este não é um estilo musical que faz parte da minha proposta cultural. Foi justamente devido a uma festa de música eletrônica que um de nossos vizinhos se incomodou e fez uma denúncia no Ministério Publico. Apoiado pelo Conselho Comunitário de Alter do Chão, cujo presidente nunca gostou do Espaço por acreditar que só deve haver uma festa por noite na Vila, conseguiram fechar a casa.
São inúmeros os danos ambientais que ocorrem na Vila e seus arredores: esgoto jogado diretamente no rio, invasão e desmatamento no igarapé do Caranazal e outros, falta de saneamento, fossas que contaminam o lençol freático e incentivam a proliferação de viroses, desmatamento, construções e outras aberrações em APPs como beiras de lagos, rios, igarapés e até dentro do lago do Carauari, desvio de igarapés, poluição sonora, despejo e destinação incorreta do lixo e outros que vemos no dia-a-dia de Alter do Chão. Para tudo isso a Secretaria de Meio Ambiente fecha os olhos, mas por outro lado decide fechar de imediato a casa que mais valorizou o Carimbó em Alter do Chão atropelando o processo normal que seria notificação, a multa e aí sim interdição.
Desde que cheguei em Alter do Chão, me preocupei com as questões ambientais da região. Dediquei anos à efetivação da APA, ocupando o cargo de secretário executivo do conselho de forma totalmente voluntária. O grande resultado deste trabalho foi a elaboração do plano de uso junto com a comunidade, que foi engavetado pelo último secretário de Meio Ambiente de Santarém.
Tenho clara consciência do incômodo que é a poluição sonora; peço desculpas e agradeço a paciência e compreensão dos vizinhos. Eu também sofro com lanchas e balsas com som altíssimo que certamente causam grandes danos a natureza, sem falar nos carros que sempre estiveram com caixas de som gigantes na frente do Espaço, desde os tempos em que era Pousada Alter do Chão. Estes não tem licença para ser cassada e são os verdadeiros vilões da poluição sonora. Por esta preocupação tenho meu próprio decibelímetro (aparelho que mede o volume do som) e estava tratando de diminuir o incômodo da vizinhança sem tirar as características ecológicas da casa. Fomos fechados por 76db; Uma moto passando na rua causa um ruído maior que 100db, imaginem um carro destes com som?
Lamento muito com esta decisão. Vou seguir meu caminho independente de uma localização física, fazendo e promovendo arte por um mundo melhor, sem deixar de expor a hipocrisia dos órgãos públicos encarregados de preservar a natureza em Alter do Chão.
Borô

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